domingo, 15 de junho de 2014

Tráfico de pessoas e trabalho escravo também podem crescer durante a Copa

O foco do tráfico de pessoas durante a Copa poderá ser entre estados. Foto: Reprodução.

Tráfico de pessoas e trabalho escravo também podem crescer durante a Copa


Danilo Emerich

Um dos principais temores de autoridades é o aumento do tráfico de pessoas em função da Copa do Mundo. O tema chegou a ser debatido na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em 8 de maio, mas o combate do crime se restringe a projetos de lei em lenta tramitação na Câmara dos Deputados e no Senado, campanhas de conscientização e investigação dos poucos casos que chegam ao conhecimento das forças de segurança.

Para a Copa do Mundo, casos de tráfico de pessoas começaram desde o início de maio em Minas Gerais. Em Ipatinga, no Vale do Aço, uma travesti chamada Gisele revelou um esquema do tráfico de pessoas para BH, com fins de exploração sexual.

Segundo ela, uma mulher chamada Cláudia cobrava cerca de R$ 2 mil para travestis virem para a capital mineira e ficarem instaladas em uma mansão na Orla da Pampulha, onde fariam os programas. “Se chegasse o dia da viagem e se elas tivessem pago todo o valor, por exemplo, faltar R$ 400, podiam viajar, mas passavam a dever R$ 800. Parte dinheiro dos programas ficava com a casa. Foram as condições que me ofertaram, mas decidi não ir”, disse.

Gisele também afirmou ter trabalhado na Praça da Cemig, em Contagem, em 2013, onde uma travesti chamada Samantha cobra aluguel dos pontos na região. “Se houvesse qualquer discussão, ela multava, tomava os bens, batia e chegava a deixava pessoas presas”, revelou.

SUBNOTIFICAÇÃO
Em Minas Gerais, a Polícia Federal registrou, entre 2005 e 2011, 1.075 ocorrências ligadas a comercialização do ser humano. Porém, o número real é muito maior, devido a subnotificação. Segundo relatórios do Ministério da Justiça e da ONU, estima-se cerca de 2,45 milhões de pessoas traficadas por ano no mundo, movimentando um mercado de US$ 32 bilhões.

Para o coordenador especial de Prevenção à Criminalidade da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), Talles Andrade de Souza, a subnotificação é real, mas as estimativas são “fantasiosas”. Ele cita previsões do tráfico de pessoas em eventos, como a Olimpíadas de Inverno em 2010, no Canadá, e as Copas do Mundo da Alemanha e África do Sul, “mas os números não foram confirmados pelos governos locais”.

Desde que foi criado, há um ano e meio, o núcleo mineiro acompanhou 42 casos suspeitos envolvendo 347 pessoas. “A confirmação só se dá por meio jurídico. Não basta a regularização de uma exploração laboral, por exemplo. É preciso investigar a origem, de como essa pessoa chegou lá”, afirmou Talles.

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INVESTIGAÇÕES
A Polícia Federal, entre 2010 e 2013, instaurou 53 inquéritos em Minas Gerais para apuração de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, sendo que 28 destes em Belo Horizonte, 13 na região de Governador Valadares e os demais distribuídos por todas as outras cidades.

Com relação às investigações sobre trabalho escravo, no mesmo período, a PF investigou 167 inquéritos, sendo 49 em BH e 43 em Uberlândia. Ainda entre 2010 e o último ano, foram instaurados 19 inquéritos com o fim de apurar o envio de crianças para o exterior ou a fuga de genitor com filho sem autorização do outro genitor.

Em nota, a Polícia Federal informou que está atenta a esses tipos de crimes e sempre investiga qualquer denúncia.

NÚMEROS
475 brasileiros foram vendidos para fora do país, entre 2005 e 2011, segundo a Polícia Federal.

337 casos eram destinados a exploração sexual. A maioria delas adolescentes e mulheres até 29 anos, solteiras, de baixa escolaridade, oriundas de zonas urbanas.




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